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REVISTA BIPOLAR Nº 30: “VIVER EM EQUILÍBIO”
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“A Depressão é um dos problemas mais comuns na prática clínica…”
Contrariamente à ideia generalizada de que as perturbações mentais tratadas nos cuidados primários são se importância menor, elas constituem um grave problema de Saúde Pública e representam um pesado fardo para os indivíduos e suas famílias, para os serviços de saúde e para a sociedade. Para mais, continuam a ser subdiagnosticadas e subtratadas, apesar da existência de terapêuticas específicas e eficazes. No que respeita à depressão, é sabido que muitos doentes temem ser considerados simuladores e alimentam sentimentos de culpa relacionados com o seu estado. A desconfiança com que a doença depressiva continua a ser olhada explica, em parte, a razão pela qual apenas 25% dos casos são reconhecidos e tratados, não obstante tratar-se da perturbação emocional mais comum, que afecta 50% dos norte- americanos e dos europeus ocidentais em alguma altura das suas vidas.
A depressão major ocorre em 5 a 10% dos doentes assistidos nos cuidados primários e em 10 a 14% dos doentes internados (Katon e Schulberg, 1992) e a probabilidade de morrer é mais de quatro vezes superior nos indivíduos com mais de 55 anos com perturbações do humor do que nos outros (Bruce e Leaf, 1989). Por outro lado, apenas 11% dos doentes considerados como necessitando de medicação antidepressiva a receberem na dose e pelo tempo adequados (Katon et al., 192). Calcula-se que entre 40 e 50% de todos os suicídios são cometidos por doentes com perturbações depressivas não diagnosticadas ou mal tratadas (Avery e Winokur, 1976; Rhimer et al., 1990; Paykel, 1911). As consequências socioeconómicas da depressão são também substanciais: os seus custos foram estimados, nos Estados Unidos, em 29 biliões de dólares (Abraham et al., 1991).
O mais amplo estudo internacional sobre Problemas Psicológicos em Cuidados Primários, promovido pela Organização Mundial de Saúde e em que participaram 14 países e cerca de 5500 doentes (1995), revelou que aqueles afectam 24% da população, sendo os mais comuns as perturbações depressivas, as perturbações da ansiedade, as perturbações derivadas do abuso do álcool e as perturbações somatoformes, e que uma proporção significativa de doentes, 10% sofre de uma condição borderline que não satisfaz os critérios de investigação, mas está na origem de sintomas clinicamente significativos e de défices funcionais. Os níveis de incapacidade registados nos cuidados primários são, em média, superiores aos associados a doenças crónicas, como, por exemplo, hipertensão, diabetes, artrite e dorsalgia; mesmo nos doentes com perturbações físicas e psicológicas, a associação entre perturbação psicológica e incapacidade permanece evidente depois de controlada a doença física. Quer nos países desenvolvidos quer nos países em desenvolvimento, a maior parte dos doentes com perturbações psicológicas bem definidas recorre ao medico por uma queixa semelhante às habitualmente associadas a uma doença somática, como, por exemplo, dorsalgia, falta de fôlego e tonturas.
O estudo também mostrou que a concordância entre o reconhecimento, pelo clínico geral, de uma perturbação psicológica e o diagnóstico de perturbação psicológica segundo os critérios da ICD-10 é baixa a moderada, melhorando com a gravidade da perturbação.
Tendo em conta estas conclusões, a OMS defende que os cuidados de Saúde Mental devem fazer parte integrante dos cuidados primários de saúde, aonde ocorre a maioria dos doentes com problemas psicológicos. Existindo hoje conhecimento suficiente para ajudar as pessoas com perturbações psicológicas e a possibilidade de traduzir a investigação na clínica, devem ser postos em prática programas específicos dirigidos aos cuidados primários, visando a sensibilização para aqueles problemas, e a melhoria do seu reconhecimento e tratamento, por forma a esbater as diferenças entre doença “mental” e doença “física” e a reduzir o estigma associado às doenças mentais. A importância destas doenças deve, pois, segundo a OMS, ser sublinhada a todos os níveis da formação médica, com vista a munir os clínicos gerais das competências básicas para o diagnostico e o tratamento dos problemas psicológicos no contexto dos cuidados primários.
Um Manual da Depressão representa um contributo para o desenvolvimento desta estratégia. O seu autor, Dr. Santosh Kumar Chaturvedi, trabalha presentemente na NIMHANS, de Bangalore, como professor associado de Psiquiatria. Durante esta colaboração de uma década com a NIMHANS, o Dr. Chaturvedi interessou-se vivamente pela investigação do uso dos antidepressivos e o seu trabalho tem sido reconhecido na Índia e no estrangeiro.
Eminente figura da Psiquiatria e detentor de 18 prémios, o Dr. Chaturvedi está muito envolvido na educação dos doentes, a par do trabalho de investigação que desenvolve e se traduz, até ao presente, em mais de 200 publicações. Presidiu a vários workshops sobre o tratamento da depressão dirigidos a médicos, e a doentes a suas famílias, para os ajudar a compreender melhor a sua doença. A tradução do seu Manual em Português insere-se no desenvolvimento da vertente formativa que a Knoll considera parte integrante indispensável de uma abordagem global da doença, neste caso da depressão, que, também no nosso país, constitui um grave problema de Saúde Pública.
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